A CARTILHA

GRANDE AMOSTRA DO CINEMA BAHIANO
Projeto que pretende fortalecer o movimento cineclubista e comemorar, junto com o público, os 100 anos de cinema produzido na Bahia. É impossível, dentro de uma mostra de filmes que se pretende homenagear 100 anos de cinema, conseguir dar conta da riqueza e pluralidade de toda a filmografia baiana. Por isso mesmo, que reforçamos que esta será uma AMOSTRA dentro de um universo muito rico e que precisa ser conhecido. A idéia dos seus realizadores é levar o projeto ao maior número de municípios possível, estimulando a ação cineclubista no local e difundindo a produção audiovisual do nosso estado. A equipe do projeto (produtores e mediadores) tem o objetivo não apenas de exibir filmes,mas também refletir com o público o conteúdo dos filmes e levar informações sobre a história do cinema e do cineclubismo produzidos na Bahia. Assim, criamos uma cartilha, com informações preciosas sobre a história do cinema baiano e sobre o movimento cineclubista brasileiro. Abaixo o texto na integra, deste material. BOA LEITURA!

100 ANOS DE CINEMA BAIANO
Em outubro de 1910,Diomedes Gramacho e José Dias da Costa filmam “Regatas na Bahia”, marco inicial do cinema feito no estado. Como muitas das realizações feitas na primeira década do século XX, no Brasil, o curta-metragem registra cenas reais, neste caso competições de barco que aconteciam na Baia de Todos os Santos. Até 1914, a dupla filmou diversos eventos locais, além de produzir uma série de cinejornais que eram exibidos no Theatro São João, em Salvador. Infelizmente, estas e outras imagens do inicio do século passado, como o “Carnaval cantado na Bahia, 1920”, filme de J.G. Lima e José Nelli, que mescla ficção e documentário, só existem nos registros históricos dos jornais impressos. Os registros mais antigos que ainda podem ser assistidos são de Alexandre Robatto Filho, que nasceu em 1908 e trinta anos depois inicia suas atividades no cinema, influenciado pela escola dos documentaristas ingleses. Robatto deixou 25 títulos, entre eles “Vadiação”,“Desfile dos Quatro Séculos”e “Entre o Mar e o Tendal”. Todas essas produções eram de curta duração, cabendo ao cineasta Roberto Pires, a primazia de realizar o primeiro filme de longa-metragem feito na Bahia:REDENÇÃO.

REDENÇÃO, O PRIMEIRO LONGA-METRAGEM BAIANO
Roberto Pires nasceu em Salvador,em 1934. Aos 12 anos começou a se interessar por cinema e passou a freqüentar as salas Pax, Santo Antonio, Jandaia e Aliança, onde quase sempre eram exibidos filmes policiais,o que o fez gostar especialmente do gênero. Com a paixão pelo cinema já incorporada à sua vida, produziu pequenas experiências fílmicas, mas estas se perderam ao longo do tempo. Um dia Roberto reconheceu a Bahia na tela de um filme e, saindo do cinema,decidiu produzir um longa-metragem no estado. O filme demorou três anos para ser rodado e contou com recursos apenas dos sócios da Iglu Filmes, produtora. As cenas de Redenção mostram uma Salvador do final da década de 1950. Quando foi exibido, em 1959, a população fazia fila para assistir à película e o filme bateu recorde de bilheteria na primeira semana. A partir deste marco histórico,a produção de filmes no estado não parou de crescer.

DO CINEMA NOVO AOS NOVÍSSIMOS BAIANOS
Com Rex Schindler e Glauber Rocha incorporados ao grupo da Iglu Filmes, deram início à produção de três longas-metragens importantes para o Ciclo Bahiano de Cinema: A Grande Feira (1961), dirigido por Roberto Pires; Barravento (1961), dirigido por Glauber Rocha; e Tocaia no Asfalto (1962),também de Roberto Pires. Em seguida, Glauber Rocha participa do movimento chamado CINEMA NOVO, cujo lema era “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. Nesta época foram lançados filmeas como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”e “Terra em Transe”. A ditadura militar imposta no Brasil na década de 1960/1970, não impediu que a arte do cinema baiano se manifestasse e muitos artistas usaram sua arte como instrumento de luta: Tuna Espinheira, Agnaldo Azevedo, Guido Araújo, Lázaro Torres, José Walter Lima, são alguns exemplos de artistas que não se calaram frente aos terrorismos da ditadura. Na corrente da contra cultura, o underground marcou presença com André Luiz de Oliveira, Álvaro Guimarães,Zé Humberto Dias. Entre 1970-1983,o movimento Super-Oito produziu mais de duzentos filmes nessa bitola e em nenhuma outra época do cinema baiano se experimentou tanto. Destacam-se nomes como: Pola Ribeiro, Fernando Belens, Edgard Navarro, Jorge Felippi,Joel de Almeida, entre outros. Durante quase duas décadas, o cinema baiano enfrentou o pesadelo da crise dos anos Collor. Considerado um marco da retomada do cinema baiano,“3 Histórias da Bahia”, dirigido por Sérgio Machado, Edyala Yglesias e José Araripe Júnior, produzido no final da década de 1990, acaba com um jejum de 18 anos sem produção de longa-metragem. A partir deste marco, surgiram novos talentos e várias produções baianas chegaram às telas. Podemos destacar nomes como: Jorge Alfredo, Roberto Duarte, Monica Simões, Solange Lima, Adler Paz, Lula Oliveira, Kiko Povoas, Caó Cruz Alves, Henrique Dantas, João Rodrigo Mattos, Sofia Federico, Paulo Alcântara, entre tantos, que hoje produzem um cinema de alta qualidade. Atualmente, são centenas de novos curtas produzidos todo ano por uma jovem geração de cineastas. Além dos filmes de média e longametragem que estão circulando no Brasil e no mundo, participam de diversos festivais e estão sendo veiculados nas TVs públicas de todo o país.

80 ANOS DO MOVIMENTO CINECLUBISTA BRASILEIRO
O cineclubismo surgiu na década de 1920 na França. No Brasil ele surge em 1928 com a fundação do Chaplin Club, em 13 de junho. O Chaplin Club foi o que primeiro cine que constituiu estatuto e manteve uma atividade sistemática de exibição e discussão de filmes. Sua influência na formação da cultura cinematográfica no Brasil é fundamental. Nos poucos textos que abordam a trajetória histórica do cineclubismo existe um vácuo entre o Chaplin Club e o Clube de Cinema de São Paulo. Este cineclube, fundado em agosto de 1940, se proponha a “estudar o cinema como arte independente, por meio de projeções, conferências, debates e publicações”. Destaque neste período, Paulo Emílio,grande pensador do cinema brasileiro na época. A década de 1950 são os anos de organização dos cineclubes como um movimento. Além da expansão pelas capitais, e mesmo por cidades menores, os cineclubes passam a se aproximar, se reunir. Surgem as primeiras iniciativas de organização, depois são criadas diversas federações estaduais – que irão culminar, em 1961, na criação do Conselho Nacional de Cineclubes (CNC). A partir de 1959 passam a ser organizadas as Jornadas Nacionais de Cineclubes, congressos anuais ou bianuais – conforme a época – que constituem uma das mais importantes conquistas democráticas do movimento cineclubista brasileiro.

60 ANOS DO CLUBE DE CINEMA DA BAHIA
O cineclube na Bahia surgiu na década de 1950 com a formação do Clube de Cinema da Bahia, por Walter da Silveira. O Clube de Cinema foi fundado no sentido educativo, visando a formação de plateia a fim de que os baianos pudessem conhecer os filmes, por exemplo, do neorealismo italiano,ou do realismo poético francês. Walter da Silveira teve esse trabalho de exibir os filmes, além de fazer um pronunciamento antes deles. Foram nos clubes de cinema que os cineastas e intelectuais baianos, como Glauber Rocha, Roberto Pires, Orlando Senna e José Umberto Dias, na década de 1950, tiveram acesso a importantes obras do cinema e travavam discussões sobre as obras exibidas. É nesse contexto que surge o Ciclo Bahiano de Cinema que resulta na realização de importantes obras do cinema baiano. Após o falecimento de Walter da Silveira, Guido Araujo reabre o Clube de Cinema no início dos anos 1970, e se fortalece na universidade. Durante a Ditadura, aconteceu a Jornada Internacional de Cineclubes na Bahia e também foi criada a Associação Brasileira de Documentaristas (ABD). Também através da Jornada, surge Luis Orlando, que faz a ponte do cinema com as comunidades de periferia da capital baiana,na década de 1980. Inaugura-se assim um cineclubismo inédito no Brasil, um cineclubismo de comunidade, através dos centros de luta do movimento negro.

NOVO CINECLUBISMO BAIANO
A partir de 2008, diversas atividades foram realizadas no Brasil, para marcar os 80 anos do Movimento Cineclubista brasileiro. Oficinas de formação foram realizadas para possibilitar a constituição de novos cineclubes e juntamente com o Programa Cine Mais Cultura foram disponibilizados equipamentos de projeção audiovisual, ampliando o número de cineclubes em todo o país. Em 2009 foi realizada uma Oficina de Formação Cineclubista para de 27 cines, entre Bahia e Sergipe, contemplados com o Edital Cine Mais Nacional e outras parcerias. Em 2010, mais 14 cines receberam oficinas do Edital Cine Mais Municípios com até 20 mil habitantes. E em 2011, mais de 60 cineclubes receberão oficinas e o kit de projeção,a partir do Edital Cine Mais Cultura Bahia. O movimento cineclubista baiano está articulado em redes virtuais e sociais, debatendo filmes, trocando experiências e construindo possibilidades de UNIÃO e DIFUSÃO do cinema brasileiro. Em novembro de 2010, ocorreu a fundação da União de Cineclubes da Bahia e em 2012 acontecerá na Bahia o Encontro Nacional de Cineclubes.

PROGRAMA CINE MAIS CULTURA
Com a concentração de salas comerciais de cinema em apenas 8% do território nacional e a quantidade muito reduzida de obras audiovisuais brasileiras na TV, a maioria dos filmes produzidos no país permanecem inéditos para grande parte de sua população. Norteado por demandas apresentadas em diálogos com a sociedade civil, o Ministério da Cultura, sob orientação do Programa Mais Cultura, promove a ação Cine Mais Cultura. Através de editais e parcerias diretas, a iniciativa disponibiliza equipamento audiovisual de projeção digital, obras brasileiras do catálogo da Programadora Brasil e oficina de capacitação cineclubista, atendendo periferias de grandes centros urbanos e municípios, de acordo com os indicadores utilizados pelo Programa Territórios da Cidadania. Os editais têm como foco pessoas jurídicas sem fins lucrativos e, conforme seus objetos, visam contemplar entidades tais como bibliotecas comunitárias, pontos de cultura, associações de moradores ou até mesmo escolas e universidades da rede pública bem como prefeituras, sempre com o objetivo de favorecer o encontro e a integração do público brasileiro com a produção audiovisual de seu país.